terça-feira, 31 de outubro de 2017

Aula 08: As religiões abraâmicas (áudio) - Curso de Religiões Comparadas

O curso

As aulas de número 2 a 7 foram dedicadas às religiões do ramo ariano/indiano. Agora se inicia a parte do módulo dedicada às religiões abraâmicas (judaísmo, cristianismo e islamismo). Essa oitava aula é dedicada a uma introdução geral ao ramo semítico. Entre outros tópicos, a aula trata do conceito de divindade nas religiões politeístas e monoteístas.

Observação: Este curso foi ministrado pelo professor Luiz Gonzada de Carvalho Neto. Este é o primeiro módulo, que contém vinte aulas. Para acessar as demais aulas e demais informações sobre o curso, clique aqui.


AULA 08: O ramo semítico: as religiões abraâmicas

Parte 1 de 2





Parte 2 de 2






A marcha de Abraão. Pintura de József Molnár.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Ateísmo como descrença X ateísmo como crença

[Postado originalmente em 13/08/2012. Ressuscitado em 30/10/2017]

Já apontei no blog a diferença entre os ateus e os neo-ateus (ou ateus militantes), mas é bom retornar à questão, especialmente para evidenciar a natureza enganadora do termo “militante”. O ponto fundamental é o seguinte: ateísmo (normal) se define pela ausência ou negativa de uma determinada crença; neo-ateísmo se define por uma crença (ainda que disfarçada de ceticismo).

Resumidamente, um ateu normal é quem:

(i) não acredita na divindade e

(ii) questiona tal crença com base em aspectos que lhe pareçam mal explicados, contraditórios, não-convincentes, etc.

Ou seja, o que define um ateu normal é o que ele é incapaz de crer em algo (i.e. na existência do divino). Não importa se o motivo dessa não-crença é derivado de uma investigação racional da questão, de uma desilução com a religião, de uma revolta moral contra a maldade no mundo, do desejo de ir contra a maioria, da preguiça investigativa etc).

As motivações psicológicas podem ser as mais diversas. Por exemplo, em épocas passadas, o ateísmo estava mais relacionado a uma posição imoral ou amoral quanto à vida. Hoje em dia, temos a situação inversa: o ateísmo é, muitas vezes, uma reação moral contra o mal na sociedade.

Também não importa se o questionamento em (ii) é feito apenas para si ou para algum debatedor ou algum público. Em outras palavras, para ser um ateu normal não é preciso ficar caladinho, na sua, sem jamais expor sua opinião negativa sobre o teísmo. O que caracteriza o ateísmo normal é a negativa (ativa ou passiva) de uma crença, não a ausência de uma posição militante, propagandista.

O ateu militante, por outro lado, não se define por aquilo em que não crê, mas por aquilo em que ele, de fato, crê. O ateu militante acredita em, pelo menos, três coisas:

(i) é possível aos seres humanos (como um todo) alcançar um estado de perfeição moral e intelectual;

(ii) e, a partir desse estado, é possível construir uma sociedade perfeita e completamente justa (uma espécie de paraíso na Terra);

(iii) para a humanidade chegar a tal perfeição e construir tal paraíso na Terra, é necessário destruir todas as religiões do mundo, pois elas seriam o principal obstáculo a tão grandioso futuro.

Os ~livre pensadores~ que só repetem a mesma coisa

Da mesma forma, não importa muito quais tenham sido as motivações para alguém se tornar um neo-ateu. Ele pode ter feito algum tipo de investigação racional sobre a existência de Deus e chegado a uma conclusão negativa e, adicionalmente, se revoltado contra os que não chegaram à mesma conclusão; ele pode ter se desiludido com a religião, com a igreja, com o padre ou com a namorada que o traiu com o leiteiro; ele pode ter se revoltado moralmente contra a maldade e a injustiça no mundo; ele pode ser um adolescente de 17 anos que precisa da aprovação do grupo (ou do seu professor...) e adota uma postura de revolta pois ela está na moda (ah, não se fazem mais revoltados como antigamente!); etc.

Os motivos não são tão importantes porque, a rigor, as mesmas motivações podem levar a pessoa ao ateísmo normal, ao ateísmo militante ou mesmo para a uma religião. Tornar-se religioso por mero desejo de aprovação do grupo de que faz parte é tão questionável quanto tornar-se ateu ou ateu militante por desejo de aprovação do grupo. Esse tipo de motivo não depende dos méritos da posição filosófica/ideológica em si, mas da demografia.

Na verdade, diante das três características citadas acima, a questão sobre a descrença na divindade perde até importância, tornando-se secundária para a definição do ateísmo militante. A rigor, alguém pode, no fundo de seu coração, crer em Deus, mas tornar-se um militante neo-ateu por odiá-lo. Como não temos como ler a mente da pessoa para saber o grau de sinceridade de sua descrença em Deus (assim como não podemos descobrir o grau de sinceridade da crença de um teísta), o que realmente importa é a manifestação da crença na perfeição humana e na perfeição social. Por isso, alguns preferem chamar o neo-ateísmo de “humanismo” para evitar a difamação que tais fanáticos fazem do ateísmo ao se posicionaram como seus únicos representantes legítimos.

O que torna o neo-ateísmo algo desprezível em si, portanto, não são as motivações para adesão nem mesmo a sua tentativa de divulgação (a tal militância), por mais chata que ela seja, mas a natureza das crenças em que se baseia e que tenta espalhar.

A crença na perfeição do ser humano é absurda em si e só prospera pela total ignorância com relação à nossa natureza, às nosssas fraquezas, aos nossos erros, aos nossos... pecados (cuidado! Eu usei a palavra careta e abominável!).

A crença na possibilidade de tais homens perfeitos criarem, então, toda uma sociedade perfeita é ainda pior, pois envolve não somente a possibilidade de um método para o homem alcançar a perfeição, mas um trabalho de reengenharia social que submeta toda à humanidade (independentemente de sua vontade) ao método criado por algumas poucas mentes iluminadas.

A crença de que o paraíso na Terra só não foi alcançado ainda por culpa de um determinado grupo social (que, então, precisa ser exterminado) é o mesmo tipo de crença que motivou os nazistas a exterminar os judeus e os comunistas a exterminar os burgueses.

A propaganda neo-ateísta se baseia em grande parte em afirmativas exageradas sobre os crimes (reais e imaginados) cometidos por religiosos e/ou em nome da religião para criar uma indisposição das pessoas com o teísmo, ao mesmo tempo em que propõe a militância político-ideológica como a solução para todos os males, ignorando todos os crimes (infinitamente maiores) cometidos em nome das ideologias políticas.

A história nos mostra, porém, que a crença na perfeição humana e na possibilidade de construir um paraíso na Terra é capaz de produzir tragédias infinitamente maiores do que quaisquer crimes praticados por motivação exclusivamente religiosa.

sábado, 28 de outubro de 2017

Nova Generalização Femimiminista

As atas do último CNEFPAFAG (Congresso Nacional de Estudos Femimiministas Prafrentex Anti-fascismo Abaixo o Golpe) registram a seguinte decisão, tomada unilateralmente por todxs as companheiras:

- "Todo homem é um estuprador em potencial. Menos Caetano, que comeu uma menor de 14 anos."



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Uma gota de sangue, negro

[Publicado originalmente em 12/12/2010. Ressuscitado em 26/10/2017]

One-drop rule

Já ouviram falar da one-drop rule? Literalmente “regra da uma gota”?

Trata-se de um conjunto de antigas leis americanas que estabeleciam que a cor da pessoa não deve ser determinada pela sua real aparência, mas pela sua ascendência. A idéia é que, se a pessoa tiver “uma gota” de sangue negro (ou seja, um ascendente negro sequer), ela deve ser considerada negra, inclusive em documentos oficiais.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Inversões revolucionárias: o desprezo às mães na universidade

Algum tempo atrás, comentei com um colega (que tem carreira intelectual) que eu tinha alunas que trabalhavam o dia inteiro, estudavam à noite e só viam o filho no final de semana, porque, para elas, trabalhar não era "um direito" ou "uma opção", como pregava o feminismo, mas uma necessidade para terem com que comer e pagar as contas.

A resposta foi: "Quem mandou elas terem filho antes de fazer faculdade!".

Pensem direitinho sobre essa frase imbecil. Não é apenas que ela não tem nada a ver com a questão comentada. É que ela parte de uma inversão completa da natureza humana e social.

Para ele (e para muitos!), FAZER FACULDADE é um elemento natural da vida humana; algo que diz respeito à própria natureza das coisas; um item constitutivo do que é viver em sociedade: algo que sempre existiu por todos os séculos e sempre existirá pelos séculos e séculos. 

TER FILHOS, por outro lado, é que o elemento artificial, estranho, inovador e, portanto, supérfluo, não algo que é consequência da própria natureza humana e biológica, não um elemento que é a base da própria existência e subsistência da sociedade.

Do site: Gestação Bebê.
Essa inversão revolucionária da realidade, infelizmente, é o que domina a cabeça da esmagadora maioria das pessoas. A sociedade não deve, eles acham, tentar dar o máximo de subsídios para as mulheres que têm filhos; ela deve é incentivar as novas mulheres a nunca, jamais ter filhos.

Isso é mais do que tolice. É suicídio. As sociedade sobreviveram por milênios sem a mera existência das universidades. Mas nenhuma jamais sobreviveu sem muitas e muitas e muitas mães.

Notem que não se trata de criticar quem fez faculdade antes (ou ao invés) de ter filhos, mas de considerar que esta seria a única escolha socialmente aceitável ou louvável, enquanto a outra deveria ser estigmatizada, criticada e zombada.

Especialmente nesta época em que os diplomas universitários têm cada vez menos valor e em que uma multidão de advogados e engenheiros recém-formados explode as estatísticas do desemprego (devido a uma política educacional voltada a inflar números rapidamente), é preciso lembrar que, se a maternidade pode ser uma opção, muito mais opcional é fazer faculdade; este é apenas um entre vários caminhos, entre várias opções de vida e de profissão.

domingo, 22 de outubro de 2017

Arte no domingo: "A alegoria da Gramática" (#ABelezaImporta)

Em um mundo em que a beleza (na arte, na arquitetura, no ambiente físico) é cada vez mais desprezada, em que a feiúra, o grotesco, o caótico e o horrendo são declarados pelas classes chiques e endinheiradas como os únicos ideais a serem seguidos e impostos (aos outros), precisamos gritar bem alto: A BELEZA IMPORTA! 

Somos seres estéticos. Não apenas apreciamos a beleza, mas precisamos desesperadamente dela para acalmar e organizar nossa psique, para desenvolver nossa cognição e inteligência. A beleza nos torna melhores e mais inteligentes; o caos, a feiúra e o grotesco nos confunde e nos emburrece.

Abaixo, o quadro "A alegoria da Gramática", de Laurent de La Hire, pintado em 1650.

A alegoria da Gramática. Laurent de La Hire (1650)

sábado, 21 de outubro de 2017

Aula 07: Budismo (conclusão) - Curso de Religiões Comparadas

O curso

Esta é a sétima aula do curso de Religiões Comparadas e a segunda (e última) dedicada especificamente ao budismo. Esta aula também encerra o ciclo dedicado às religiões de origem ariana. As próximas aulas tratarão das religiões abraâmicas.

O curso foi ministrado pelo professor Luiz Gonzaga de Carvalho Neto. Este é o primeiro módulo, que contém vinte aulas. Para acessar as demais aulas e demais informações sobre o curso, clique aqui.


AULA 07: O budismo (final)

Parte 1 de 2





Parte 2 de 2



Link alternativo: aqui.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

“Eu vou bater em você!”

[Post publicado originalmente em 16 de julho de 2010. Ressuscitado em 18 de novembro de 2017]

O presidente da República [Lula] anunciou esta semana o encaminhamento ao Congresso de um projeto de lei contra os “castigos físicos” dos pais nos filhos. O pai da pátria usou, pelo menos, quatro argumentos para defender este projeto:

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Governo da Bahia: Viciado em outdoor

[Postagem publicada originalmente em 22 de janeiro de 2012. Ressuscitada em 16 de outubro de 2017. Continua atual]

O estado da Bahia vive dois gravíssimos problemas atualmente: o aumento exponencial do número de assassinatos e o aumento gigantesco no consumo de drogas, em especial, de crack. Obviamente, os dois problemas estão inter-relacionados. Um colabora o outro.

Como, então, o governador petista branco e de olhos azuis da Bahia, Jaques Wagner, resolve agir para enfrentar o problema?

Opção número 1: monta operações policiais para prender e destruir as quadrilhas de tranficantes?

Resposta: Não!

Opção número 2
: exige que o seu partido, o PT, rompa a aliança política que tem com a maior organização de tráfico de drogas do continente, as FARCs?

Resposta: Não!

Opção número 3
: exige que o governo federal petista feche as fronteiras nacionais para o tráfico de drogas, ao invés de dificultar o trabalho anti-tráfico da polícia federal nas fronteiras, como nossa presidente está fazendo?

Resposta: Não, não e não!

Ao invés de adotar alguma dessas medidas óbvias para enfrentar esse grave problema, o que é que o governador resolve fazer? Ele resolve gastar dinheiro público em outdoor publicitários com fotos de celebridades baianas — como se as nossas celebridades precisassem de publicidade gratuita para beneficiar suas próprias carreiras.

Será que o nosso governador é tão ingênuo que realmente acredita que algum viciado em crack vai largar o vício por ver um outdoor com uma foto de celebridade? Ou que algum traficante vai ser “ressocializado” por causa de uma série de slogans ruins?










Que coisa vergonhosa.

domingo, 15 de outubro de 2017

Mudança lingüística (2): "nudez", "pedofilia", Sociolingüística e Eurística

Vamos continuar nosso esforço para compreender melhor a linguagem revolucionária. Dessa vez, façamos o exercício de descrever uma polêmica atual utilizando os recursos teóricos de uma corrente da Lingüística moderna, a Sociolingüística Variacionista, fundada por William Labov.

***

Agora em 2017, um processo de mudança lingüística começou a se desenvolver no português do Brasil. Segundo a terminologia criada por William Labov, pai da Sociolingüística Variacionista, esse processo pode ser classificado como um caso de "mudança vinda de cima", ou seja, uma alteração surgida acima do nível de consciência dos indivíduos, por oposição às "mudanças vindas debaixo" (do nível de consciência).

Ainda pelos modelos da Sociolingüística, podemos apontar para o papel da hiper-correção, devido às semelhanças com o caso clássico do estudo da pronúncia do -R final na comunidade de Nova York, em que os membros da classe média alta (especialmente entre 30 e 40 anos) imitavam consciente e deliberadamente a pronúncia das classes mais altas (especialmente os mais jovens), em uma tentativa de ganhar, assim, parte do prestígio social e econômico associado a essas classes.

A mudança em jogo aqui, no português brasileiro, é de natureza lexical ou semântico-lexical. Envolve uma alteração drástica e inusitada no significado da palavra "nudez", especialmente em combinação com sintagmas preposicionados específicos como "na arte" ou "em museus".

Para uma parte da classe média alta brasileira, especificamente a que é exerce funções de "proletariado intelectual", a palavra "nudez" passou a ser usada para expressar o que o restante da comunidade sempre chamou de "abuso sexual infantil" ou de "pedofilia".



O extremo grau de artificialidade dessa alteração semântica, iniciada como uma estratégia retórica (ou melhor, eurística*) de desvio de assunto, confirma o caráter de uma mudança vinda de cima. (Qualquer semelhança com as estratégias lingüísticas descritas no romance "1984" é mera imitação).

Apesar de essa alteração semântica já ter assumido, dentro do grupo social do proletariado intelectual, um status de forma de prestígio, que, conforme Labov, aparece mais frequentemente em contextos de fala/escrita monitorada, para os demais grupos sociais, essa mudança semântica é completamente rejeitada, mantendo-se como uma forma extremamente estigmatizada, especialmente entre as classes sociais mais pobres.

Como naturalmente ocorre nesses casos, a reação do proletariado intelectual da classe média alta contra a fala das classes populares envolve elitismo e preconceito lingüístico. Por um lado, procuram reforçar, via hipercorreção, o uso da variante inovadora, com uma frequência bem maior do que ocorre entre as classes altas, onde a variante surgiu; por outro, tentam estigmatizar como "ignorantes", "desprovidos de cultura", "analfabetos" todos aqueles que não aderem ao novo padrão recém implementado pelas classes dominantes.

Este é um tipo de fenômeno também bastante conhecido na literatura sociolingüística, em que a mesma variante lingüística pode assumir o valor de forma de prestígio e de forma estignatizada em diferentes segmentos da mesma comunidade de fala.

Por exemplo: é bastante comum que, em grupos sociais mais pobres, a variante considerada de prestígio pelas classes altas seja vista negativamente, enquanto variantes que são estigmatizadas pela elite econômica/cultural são vistas como formas ideais dentro daquele grupo social, fenômeno denominado na Sociolingüística como "prestígio encoberto".

Entretanto, o conceito de "prestígio encoberto" não descreve adequadamente a situação por completo, uma vez que a forma estigmatizada pelo proletariado intelectual da classe média alta (usar o termo "pedofilia" para o conceito de PEDOFILIA e usar "abuso sexual" para o conceito de "ABUSO SEXUAL") ainda é a forma mais aceita como ideal de prestígio da maioria esmagadora da comunidade lingüística, enquanto a variante de prestígio para as classes altas (usar o termo "nudez" para os conceitos de PEDOFILIA e de ABUSO SEXUAL) só alcançou esse status elevado em um grupo social bastante restrito, embora com grande poder de imposição da variantes sobre outros grupos através de violência simbólica.

Mais estudos sobre o fenômeno, naturalmente, são necessários, para verificar:

  • a) Se o processo de mudança lingüística no proletariado intelectual da classe média alta, já quase inteiramente implementado, irá se consolidar no grupo social ou se recuará.
  • b) Se a nova variante ("nudez" como novo termo para "pedofilia") conseguirá se espalhar para outros grupos sociais/lingüísticos, vencendo a barreira que hoje existe por parte dos que não a consideram uma forma de prestígio.


Além disso, evidentemente, a descrição sociolingüistica capta apenas alguns aspectos do fenômeno. Para a compreensão total das motivações, dos objetivos e dos recursos empregados conscientemente para impor essa mudança, é preciso examinar vários outros aspectos.

***

* A "eurística", grosso modo, é a falsa retórica. Consiste em estratégias não para o convencimento a partir de recursos retóricos honestos, mas por meio de estratagemas desonestos. Seguindo a classificação de Schoppenhauer, o uso dos termos "nudez", "nudez na arte" e "nudez no museu" no debate público que é, na verdade, sobre abuso sexual e pedofilia poderia corresponder atrês estratégias eurísticas: a homonímia sutial; b) manipulação semântica; c) e a fuga do específico para o geral.


Bibliografia indicada

LABOV, William. Padrões sociolingüísticos. São Paulo: Parábola, 2008. (Trad. de Sociolinguisic Patters. Philadelphia: University of. Pennsylvania Press, 1972).

SCHOPPENHAUER, Arthur. Como vencer um debate sem precisar ter razão: 38 estratagemas (Dialética Eurística). TopBooks, 2003.

sábado, 14 de outubro de 2017

A genética pode dizer qualquer coisa (que você queira)?

É interessante como a origem genética ou biológica é usada criativamente para a defesa de coisas antagônicas no debate público embasado pela ciência.

Por exemplo. Há quem argumente que a religião existe porque teríamos evoluído de tal modo a sermos programados geneticamente a crer, devido às supostas vantagens evolutivas e necessidades contingenciais para explicar o mundo à nossa volta.

Curiosamente, esse raciocínio biologizante da religiosidade NÃO é feito para elogiar e defender a religião, mas para combatê-la, para desprezá-la como algo falso, sem realidade substancial, uma mera adaptação biológica útil. O mundo espiritual, assim, não existiria; apenas uma utilidade passada, que hoje (e este é o verdadeiro ponto da argumentação) seria dispensável.

Por outro lado, o mesmo raciocínio biologizante é utilizado para chegar a conclusões exatamente opostas a essa. Por exemplo, o argumento genético é usado para legitimizar bandeiras gayzistas, através da argumentação de que a homossexualidade também é uma condição biológica, genética, portanto (de algum modo bem curioso) relacionada diretamente ao modo como evoluímos no planeta.

O ponto aqui não é se essas interpretações são verdadeiras ou falsas, mas que elas são usadas, às vezes pelos mesmos grupos, para defender e sustentar conclusões exatamente opostas:

1) A religião deveria ser menosprezada, destruída e abandonada, pois é apenas fruto da evolução, sem nenhum valor real em si.

2) A homossexualidade deve ser exaltada, defendida e sua crítica deve ser criminalizada, pois é fruto da evolução, sem nenhum (ops! vamos omitir essa parte!) valor real em si.

Não importa se você é ateu ou crente, hétero ou homossexual. É bastante claro que esse tipo de procedimento é simplesmente desonesto, independentemente da realidade ou falsidade da hipótese biológica.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Aula 06: Budismo (áudio) - Curso de Religiões Comparadas

O curso

Após três aulas dedicadas especificamente ao hinduísmo, esta sexta aula do curso de Religiões Comparadas trata de outra das grandes religiões do mundo ariano/indiano, o budismo.

O curso foi ministrado pelo professor Luiz Gonzaga de Carvalho Neto. Para acessar as demais aulas e demais informações sobre o curso, clique aqui.


AULA 06: O budismo

Parte 1 de 2




Parte 2 de 2


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Símbolos da Revolução Russa (1): pornografia política e rumores sobre a monarquia

Neste ano de 2017, completam-se cem anos da Revolução Russa de 1917, que abriu caminho para os regimes políticos mais violentos e sanguinários da história humana.

Este pretende ser o primeiro de uma série de postagens sobre o papel dos símbolos e da linguagem nos movimentos revolucionários em atuação naquele momento da história russa. Aviso: Essas postagens não terão o perfil de textos plenamente desenvolvidos, mas de conjuntos de notas feitas a partir da leitura de bibliografias sobre o tema.

Esta primeira postagem é baseada no texto "The Desacralization of the Monarchy: Rumours and the Downfall of the Romanov", dos historiadores Orlando Figes e Boris Kolonitskii, publicado no livro "Interpreting Russian Revolution: The Language and Symbols of 1917".


A dessacralização da monarquia: rumores e a queda dos Romanov

Rumores e revolução

- A monarquia russa tinha seu poder baseado em autoridade divina. Em sua propaganda, era mais do que o “direito divino dos reis”; o czar não era só o governante ordenado divinamente, mas um deus na Terra.
Capa do livro "Interpreting Russian Revolution".

- Colapso da crença na autoridade monárquica foi provocada por dois eventos: i) o massacre do Domingo Sangrento em 1905; ii) e os vários rumores de corrupção sexual e traição na corte durante a I Guerra Mundial.

- Rumores desempenham um papel importante em todas as revoluções; e desempenharam na Revolução de Fevereiro.

- Os Romanov também atribuíam papel importante na sua queda aos rumores espalhados contra eles.

- Rumores espalham informação (ou desinformação) vital; criam uma atmosfera e ajudam a organizar as pessoas nas ruas; são amplificados pelos medos e preconceitos da multidão; e podem pressionar a coroa a ações decisivas que, em outros contextos, seriam evitadas.

- Historiadores da Revolução Francesa têm demonstrado que a fofoca sexual e a sátira pornográfica destruíram a autoridade da monarquia Bourbon. A decadência sexual da família real (a libido incontrolável de Maria Antonieta e a impotência do rei) serviam de metáfora para a degeneração moral e política do antigo regime.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Aula 05: Hinduísmo e outras religiões (áudio) - Curso de Religiões Comparadas

O curso

Esta é a quinta aula do curso de Religiões Comparadas, ministrado pelo professor Luiz Gonzaga de Carvalho Neto, e a última aula dedicada especificamente ao hinduísmo. Trata, entre outros temas, da papel do livre arbítrio no hinduísmo; da relação entre o hinduísmo e outras religiões, como o cristianismo; e dos tipos de caminhos espirituais existentes dentro do hinduísmo.

Na primeira aula do curso, houve uma introdução às características fundamentais das religiões.
Na segunda aula, uma apresentação geral sobre as diversas religiões do ramo ariano/indiano.
Na terceira aula, uma introdução específica à cosmovisão e antropovisão do hinduísmo.
Na quarta aula, uma continuação da exposição sobre as características do hinduísmo.

AULA 05: O hinduísmo (última aula)

Parte 1 de 2



Parte 2 de 2








Observação: Os arquivos fazem parte do módulo I "As grandes religiões" do curso de Religiões Comparadas, ministrado pelo professor Luiz Gonzada de Carvalho NetoMais informações sobre o curso aqui.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

“Não” à viadagem de direita

[Texto publicado originalmente em 10/06/2010. Republicado em 04/10/2017]


A menor minoria na Terra é o indivíduo.” (Ayn Rand)

Já se tornou trivial apontar que a esquerda simplesmente não é a favor dos gays. Ela é a favor dos gays militantes. Dos gays profissionais, que servem às causas coletivistas defendidas pelo Partido.

Da mesma forma, a esquerda não é a favor das mulheres, dos negros, das minorias religiosas ou dos estouradores de plástico-bolha. Ela é a favor das mulheres militantes, dos negros militantes, das minorias religiosas militantes e dos estouradores de plástico-bolha militantes.

Pertencer a uma dessas minorias, mas não ser um militante do PUN (Partido Único Nacional), é algo simplesmente intolerável.

Um exemplo recente que expressou essa realidade de modo eloqüente foi
 
Nós confiamos em Deus; quanto aos outros, que paguem à vista.