É interessante como a origem genética ou biológica é usada criativamente para a defesa de coisas antagônicas no debate público embasado pela ciência.
Por exemplo. Há quem argumente que a religião existe porque teríamos evoluído de tal modo a sermos programados geneticamente a crer, devido às supostas vantagens evolutivas e necessidades contingenciais para explicar o mundo à nossa volta.
Curiosamente, esse raciocínio biologizante da religiosidade NÃO é feito para elogiar e defender a religião, mas para combatê-la, para desprezá-la como algo falso, sem realidade substancial, uma mera adaptação biológica útil. O mundo espiritual, assim, não existiria; apenas uma utilidade passada, que hoje (e este é o verdadeiro ponto da argumentação) seria dispensável.
Por outro lado, o mesmo raciocínio biologizante é utilizado para chegar a conclusões exatamente opostas a essa. Por exemplo, o argumento genético é usado para legitimizar bandeiras gayzistas, através da argumentação de que a homossexualidade também é uma condição biológica, genética, portanto (de algum modo bem curioso) relacionada diretamente ao modo como evoluímos no planeta.
O ponto aqui não é se essas interpretações são verdadeiras ou falsas, mas que elas são usadas, às vezes pelos mesmos grupos, para defender e sustentar conclusões exatamente opostas:
1) A religião deveria ser menosprezada, destruída e abandonada, pois é apenas fruto da evolução, sem nenhum valor real em si.
2) A homossexualidade deve ser exaltada, defendida e sua crítica deve ser criminalizada, pois é fruto da evolução, sem nenhum (ops! vamos omitir essa parte!) valor real em si.
Não importa se você é ateu ou crente, hétero ou homossexual. É bastante claro que esse tipo de procedimento é simplesmente desonesto, independentemente da realidade ou falsidade da hipótese biológica.
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